segunda-feira, 21 de março de 2011

Pequenas coisas e a analogia do nome próprio com a vida.

(versão completa do comentário sobre o post de Mattosquela: http://mattosquela.blogspot.com/2011/03/sol-de-si.html)

Aquele filme "Beleza americana" tem uma cena com uma fala que, na época, muito me marcou. O filme é de 1999, época em que eu fazia 19 anos e estava apaixonado não apenas por um garota - sem tê-la -, mas também pelo o próprio sentimento que eu tinha por ela. (Quem tem formação em psicologia poderá remeter isto ao conceito de idealização do meu eu naquela menina - e eu concordarei).

Enfim, a cena em questão é a de um saco plástico voando/levitanto, em um redemoinho constante, e aí um dos personagens, o garoto esquisito que tem uma câmera, pondera: "existe tanta beleza no mundo", para explicar porque ele gravava coisas aparentemente desinteressantes.

Ainda naquela época, eu já dava valor às pequenas coisas da vida. Tanto que, apaixonado como estava, eu observava aquela menina de tal maneira que descobri de quantos segundos era o seu piscar de olhos: 4 segundos.

Hoje, não sei se a vida se traduz em uma existência única aliada a um tempo constante. Eu gosto de acreditar que a vida é inconstante, tal como a música do Lulu Santos "Como uma onda", mas que podemos tentar controlá-la para torná-la constante - vivendo a controlá-la -, para, com o tempo e a experiência, nos darmos conta de que é uma vã tentativa esta de tentar controlar a vida, o tempo...

Por muito tempo, eu abria meus olhos, ao acordar, e pensava: "é hoje!". Nunca soube bem o que era que aconteceria em cada dia de minha vida que acordei assim. Esperava por algo grandioso? Sempre fui tentado a grandes momentos, grandes gestos... Queria ter sido um herói ou mesmo um mártir. Queria ser alguém que ficasse na memória das pessoas pelos grandes feitos em sua vida.

No entanto, com o passar dos anos, vi que o que eu tinha de especial não se traduzia em grandes feitos, em epopeias ou odisseias... Deixei de acordar pensando "é hoje!", para acordar pensando no que eu poderia fazer no dia que se iniciava para outras pessoas. Assim, tornei-me uma pessoa, digamos, doce, amigável, diferente, sensível, mesmo estranha para muitos. Foi outra frase que me construiu assim, uma frase que acredito tenha ligações religiosas, do tipo catolicismo mendicante: "quem não vive para servir, não serve para viver".

Tentei fazer de minha vida uma servidão de bons afetos e lealdade aos amigos. Creio que consegui. Realmente creio que atingi isto. Tornei-me paz. Tornei-me uma pessoa que as pessoas admiravam e gostavam da companhia, pois lhes dava calma, amizade e sorrisos sem gargalhadas na maior parte das vezes, afinal, nunca fui alguém deveras divertido.

"Existe tanta beleza no mundo"... E a maior delas é dar-se conta de como nós próprios somos bons e que, por vezes, devemos nos valorizar mais do que alguns sugerem nos valorizar. Pode ser que estejamos no verão, na primavera, no inverno ou no outono. Em qualquer estação, podemos estar ora felizes, ora tristes, ora melancólicos. Atualmente, sinto-me uma mistura de melancólico e triste. Mas tento, através de boas lembranças e boas palavras vindas de amigos, lembrar de alegrias - e de como a vida não é minha. Ela não é minha. Ela é de nós todos: minha, sua, tua, dela. Para uma pessoa ser verdadeiramente feliz, acredito piamente que a vida de uma pessoa é como o seu nome próprio: o usamos menos do que os outros o usam. Uso menos o meu nome do que meus amigos o usam. Que meus amigos usem mais minha vida do que eu a use.