terça-feira, 27 de abril de 2010

Caval(h)eiro

Caval(h)eiro

Há muito tempo atrás existiam histórias mais bonitas de amor
Dos tempos em que os homens lutavam com espadas e escudos
Brandiam-se as espadas ora pela guerra, ora pela honra
E o poder de um cavaleiro fulminava corações das mulheres

O cavaleiro lutava contra o mundo para mostrar-se um herói
Por sua honra ele não poupava esforços e sangue
Por sua amada, valia-se de coragem e intrepidez
E o amor nascia de uma epopeia

Findaram-se as lutas por um amor com espadas e guerras
A sociedade agora é civil, do cavaleiro ao cavalheiro
Mesmo a eloqüência de um amor torna-se banal
Visto que muitos casais dizem amar solenemente para a vida toda

Aff

Um romantismo epopeico de lutas com espadas perdeu espaço
Os mitos ficaram, mas suas histórias apenas são estórias para crianças
Não parecem trazer força de ousar, de lutar, de brandir!
Há muito tempo atrás existiam histórias mais bonitas de amor

Não tenho espadas, nem escudos, literalmente
Mas minhas armas são meu carinho, meu beijo, meus gestos
Meu escudo é a felicidade, a esperança, meus abraços
Uma mistura de cavaleiro com cavalheiro, este eu sou

Que vivamos nestes tempos uma alegoria daquele passado
Que façamos do amor um amor epopeico daqueles tempos
Que amemos nossa história, nosso sentimento e um ao outro
Que as centelhas surjam em nossos beijos como quando as espadas brandiam


escrito em 12/02/2006

sábado, 17 de abril de 2010

JPassaro, um cineasta

Sou um cineasta sem nunca ter filmado, sem nunca ter estudado cinema, sem nunca ter escrito um roteiro. Mas quero rodar um filme que verse sobre heroísmo, angústia, lealdade e, claro, morte. Quero um filme que dure quase duas horas, por volta de uma hora e 45 minutos. Não mais que isto.

Não quero que seja em p&b, porque filmes assim costumam me cansar, me tirar a atenção. Talvez colocaria só algumas cenas em p&b - quem sabe as cenas sobre a lealdade? Porque ou é ou não é; ou preto ou branco.

Abusaria dos closes, principalmente do super close nas cenas de angústia: o olhar e a boca dos atores seria muito trabalhado. Mas na única cena de heroísmo (sim, única. Meu filme só terá uma cena de heroísmo. Ninguém precisa ser herói mais de uma vez) farei um plano geral da ação, com a câmera se movimentando horizontalmente.

O grand finale (e não será a morte seu assunto) será sutil. Uma tentativa de canalizar o sentimento do espectador para um questionamento: o que vale ser leal? Certamente, será a cena em p&b.

A morte entrará apenas como referência: pela discussão entre o protagonista (um teólogo, mas não religioso) e o antagonista (ainda não decidido) sobre o filme O Sétimo Selo - que tanto me fascina. Ambos estarão jogando xadrez, tal como no filme é representado pela a Morte e o Cavaleiro.

Bem... Até agora, do roteiro do meu filme, só temos algumas coisas:

1) tratará de heroísmo, angústia, lealdade e morte;
2) terá um protagonista no papel de um teólogo que não é religioso, apenas é estudioso das religiões;
3) fará referência ao filme O Sétimo Selo, de Igmar Bergman;
4) o fim será sutil, aberto ao questionamento de quanto vale ser leal.

É muito pouco para se saber de um roteiro. Preciso pensar mais, construir mais esta estória.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A vida dá voltas

13/09/2000

Engraçado como a vida dá voltas... Experiências parecidas com as do passado ocorrem com tempos diferente e pensamentos também. Acho que isso ocorre para podemos repensar os momentos, criando bases mais fortes para o nosso crescimento. A vida realmente dá voltas...
Vou falar sobre mim, com modéstia, pois eu não tenho muito do que me orgulhar. Vou falar sobre minha vivência no colégio. Até a minha primeira oitava série eu não tinha noção de nada na vida. Era como se eu vivesse sozinho numa cúpula, não enxergava nada além da minha frente. Só isso. Não olhava para os lados, muito menos para trás. Era uma tremendo de um bobão, mongol, o que você quiser. Até permitia que me chamassem de Fonseca, porque não via sua maldade.

- Thiago, você já sabe, né? – disse minha mãe.
- O quê? – me fiz de desentendido.
- Você não passou de ano.
- ... - fiquei em silêncio.

Após alguns minutos me levantei e fui à varanda, olhei para baixo e pensei: “E se eu pulasse? Adiantaria alguma coisa?” Fiquei imaginando aquela possível queda no momento que eu sem saber subia um degrau na vida. Pensei: “Não vale a pena, algumas pessoas iriam sofrer demais, poderiam colocar a culpa nelas e isso seria injusto.”

- Mãe, vou descer para o play!

Bati a porta e toquei no meu vizinho: “Vamos descer! Ah! Repeti a 8ª série.” O cara me olhou desconfiado e perguntou: “Repetiu mesmo? Calma aí, espera dois minutos.” Descemos e nem mais tocamos no assunto. Nem lembro do que fizemos naquele dia, talvez jogamos bola. Isso foi numa sexta. Na segunda começaram as aulas. Que loucura, não?

Sempre aquela fila com o hino. Fui o último da fila, não conhecia ninguém, só um antigo amigo e uma garota que eu tinha ficado no ano anterior. Eles foram muito importantes. Me sentia sozinho pela primeira vez na vida, sem ninguém para seguir. Finalmente me inventei. Enfim era eu mesmo. Passaram a me chamar de "Estranho", algo que muitos ainda fazem até hoje. Tudo bem, admito que sou. Pessoas que eu achava que era amigo me ignoravam, triste saber desse jeito. Tinha de me largar das lembranças e buscar novas amizades, estas sim verdadeiras, que até hoje existem para até depois dos amanhãs existirem. Passei a andar olhando para todos os lados, num andar malandro, mais esperto.

Esse amadurecimento continuou pela Primeira Série de forma surpreendente para mim. Aqui fincaram as amizades e novas voltas que a vida deu. Quando se repete uma vez, o repetente acha que repetirá sempre. Não é que o primeiro ano foi o mais fácil desde a quarta série? Passei sem dificuldades e ali vi que nosso destino é o nosso percurso e não que nossos atos são nosso único caminho.

Cheguei a Segunda Série e foi um ano muito bom. Fui muito feliz, fiz coisas loucas, como por exemplo a de ficar careca. Putz!, isso sim foi louco. Ainda não sei o porque disto. Já me arrependi disso. Quando andava na chuva, caía água de todos os lados, era horrível! Ainda bem que cresceu novamente, só que demorou... só tenho uma foto de eu assim, às vezes a vejo para rir. Deixei os estudos de lado, pois me sentia bem demais. Quando chegou o boletim do 1o trimestre e as primeiras notas do 2o decide largar tudo. Eu queria repetir. Falava para meus amigos isso mesmo. Eles achavam que era brincadeira, mas não era. Tentaram me ajudar, mas eu lhes disse que se eu passasse, seria um 3o péssimo e assim o vestibular seria uma grande chacota para mim. Eles aceitaram, mas queriam que eu estivesse com eles. No fundo eu também queria. Já no fim do ano passei a simular o próximo ano, sentava sozinho lá atrás da sala. Então eu repeti. Me sentia aliviado, mas preocupado com a minha precária adaptação com novas pessoas. Me adapto facilmente as coisas ou situações, mas com pessoas...sou precário.

Entrei numa turma onde eu só sabia o nome de cinco pessoas, sem conhecê-las. E ainda me sentia velho demais para eles. Lembro de ter falado com o Sales, único que já conhecia, no 1o dia de aula o seguinte: “Eu tenho certeza que não irei me dar bem com ninguém daqui. Não terei nenhum amigo.” Que coisa...

Não foi uma, foram três garotas que fizeram a vida dar voltas de novo. Me encontrei perdidamente apaixonado pela garota mais nova da sala, que me transformou em algo que eu adoro. Não foi bem ela, foi o amor que sentia por ela. Fiz uma amizade muito difícil com outra menina, que penso que foi aquela que mais me amadureceu, por tudo o que conversávamos, enfretávamos. Também encontrei a melhor amiga que eu poderia ter, como eu a adoro, eu a amo. Ela apareceu no momento certo e isso já é tudo. Ela também me ajudou a me transformar, a ter amor próprio. Se não fosse ela eu não teria me dado respeito. Passei a andar tranqüilo, olhando todos os lados, sem o jeito malandro, dando paradas de cinco segundos para sentir a paz. É essencial.

Aqui começou um gesto que muitos pensam que é por causa da geração hippie, o “paz e amor”. É somente uma homenagem para o meu tão querido avô que faleceu a 9 de Fevereiro de 1999. Sinto saudades dele, das nossas apostas, dos seus palavrões e histórias engraçadas. “Avô, seu América está ressurgindo, já o meu Flamengo voltou a ganhar títulos, deixando de morrer na praia como você vivia falando. Desculpa se eu não chorei no seu enterro, mas toda a família estava, e a minha mãe se encarregou de tudo, precisando de alguém forte que não a desanimasse. Ela fez o que você pediu: saiu junto com você do hospital, com você com seus surrados sapatos. Obrigado avô, agora estou com lágrimas.”

Eu segurei as pontas lá em casa e aquele amor que eu sentia me deu muita força para superar tudo sozinho pela manhã e forte pelo restante do dia com o sofrimento da minha mãe e irmão, ainda mais com o fim do casamento. Não sofri porque sempre soube que isso iria acontecer.

O ano de 1999 foi o melhor e o pior ao mesmo tempo: perdi uma pessoa que eu amava e ganhei uma gama de princípios e amor próprio. E o melhor: ganhei duas amigas. Meus outros amigos também foram importantes e com certeza já os agradeci.

Esse breve histórico dos meus recentes anos mostra como a vida dá voltas no mesmo lugar, em tempos e sentidos diferentes. O amadurecimento ocorre momento a momento e não pára de ocorrer. Eu agradeço a Deus por ele ter me transformado num veterano de duas medalhas (repeti duas vezes), porque dessa forma eu pude me conhecer, viver, ter amigos, sentir emoções verdadeiras e a ter bom senso. Só me falta força de vontade. É isso que esse ano quer me ensinar, mas eu reluto, apesar de querer. A vida dá voltas nesse mundo pequeno.

(fim do que escrevi em 2000)

Curioso é ver que também na Uerj e também na UFRJ aconteceu o mesmo: a vida deu voltas em tempos e sentidos diferentes, nos mesmos locais...